quinta-feira, junho 30, 2005

" Take these broken wings and learn to fly "

Não sabemos . Há um véu de ignorância (não no sentido Rawlsiano da expressão mas...) que nos impede a antecipação do dia seguinte. Da prova seguinte. Da pessoa seguinte. Do que conseguiremos enfrentar a seguir , ou não . Ou então ... sim . Acreditar ajuda, e querer acreditando ainda ajuda mais. E agora ... como é que eu agarro isto tudo sem deixar fugir nada ? Como é que eu sigo sem tropeçar por aqui ? Mas esse mistério de ir seguindo é que dá piada a isto tudo . Nada a perder, se por uma vez me apetece esbofetear o medo em vez de ser eu a levar a bofetada . E se me apetecer mais vezes ? . . .
Depois de tudo cair, há dias em que nos é dada outra oportunidade. Hoje foi um dia bom .

terça-feira, junho 28, 2005

Miúsik, miúsik, gerhls, oliúdi !!!

Uma mensagem particular ....
Até piadas de mau gosto fizeram à nossa custa, mas hoje quem se riu por último riu bem melhor . E foi mesmo por último, mesmo o derradeiro grupo, quando já toda a gente tinha ido a contas com o júri, lá foi o pessoal da Manteiga Rançosa calar umas bocas . Rançoso foi o sabor do sapo que demos a comer a O. ( que assim se empanturrou de carne da sua carne ) . Que faça bom proveito, que nós também apreciámos muito este desfecho. E merecemos cada pontinho que nos deram. Foi uma luta bem amarguinha, mas deitámos-lhe gelo, sumo de lima e demos uma lição de trabalho e de classe. Da boca dos tolos saem muitas verdades, e faço agora minhas as palavras que ouvi de um desses a descer o Chiado no fim desta saga : MUSIC, MUSIC GIRLS !!!! HOLLYWOOD !


Parabéns "5tetas" e para o ano, conquistaremos o mundo !!!

segunda-feira, junho 27, 2005

FINALMENTE

Ele aí está, renascido das cinzas e pronto para conquistar o mundo. Caros bloggers e outros fãs, ele é ........


PETER OF PAN
A VISITAR NUM BLOG PERTO DE SI ...

sábado, junho 25, 2005

"Uma ligação com a humanidade"

Hoje vi num blog amigo uma referência ao 11 de Março, e não pude deixar de comentar. Não sei bem como dizer isto, mas parece que quanto mais coisas inventam para fazer chegar o mundo a nossa casa, mais longe estamos dele. Estranho não é ver explosões e guerras e tsunamis e ataques terroristas. Nada disso causa já estranheza. Até mudamos de canal, não porque nos faça impressão, mas porque se está "farto" de ver sempre a mesma coisa. Como se fosse algo banal, ou como se apenas alguma imagem nova, ainda mais terrível e ainda mais espectacular fosse motivo para continuar a assistir . Estranho, mas mesmo estranho, é ter de repente a sensação de que tudo isso pode saltar do ecrã para fora, é real e está aqui à nossa porta. Foi o que aconteceu com Espanha . Claro , também aconteceu no 11 de setembro, pela magnitude do acontecimento , mas devo confessar que a sensação de proximidade não é a mesma.
No 11 de setembro eu estava a comer na cozinha com o meu irmão. Fizemos umas massas de pacote, lembro-me que misturámos duas variedades, "parmesana" e "carbonara" e ficou mesmo al dente . Lembro-me de ver o segundo avião a ir contra a outra torre e dizer "ihhh, olha prá'quilo ! Ena, este esparguete está uma delícia, olha passa-me aí o Bongo" e de repente ter vergonha de ter reagido com essa naturalidade, mas terá sido a mesma "naturalidade" de milhões de pessoas, excepto talvez nos Estados Unidos. Aquilo passou-se no Ocidente, mas não se passou cá . Aquelas pessoas não são nós . Não são ???
É simples : quando se vê o avião a embater na torre, não são, a explosão é igual às que vemos num filme qualquer, um filme americano, entenda-se; mas quando se vê em directo dezenas de corpos que de um salto voluntário e desesperado se quebram no chão depois de cair umas centenas de metros, então aí passam a ser , porque isso não vimos nós nos filmes. E dizia DIRECTO no topo do ecrã . Ou, nas transmissões anglófonas, ironicamente, LIVE . Que será que vai na cabeça de uma pessoa durante a queda ? Será verdade que se morre antes de os ossos se partirem contra o chão ? Ou será que isso é uma mentira que inventámos para não nos "com-padecermos" com esse que leva uns bons metros a morrer ? Isto é, para não termos o arrepio incómodo de imaginar o fim, o sofrimento ? Tal como a mentira de que se é do outro lado do oceano não é connosco ? Então e se não for, se for mesmo no país vizinho ? Então e se de repente os árabes fundamentalistas, os tsunamis, o exército americano, a fome, as doenças e tantos horrores que estão tão longe invadissem a nossa cozinha ? Seremos igualmente frios quando um dia houver TV's a 3D ? Seremos mais indiferentes ainda ? Ou antes nos vamos sensibilizar ? Ou ainda, será que vai parecer finalmente tão real que viveremos com (ainda mais) medo da própria sombra ?
Os sintomas estão aí, fechamo-nos em casa e despejamos tudo na net, em mails, em blogs , em páginas pessoais, em chats . Sai-se menos, teme-se mais. Felizmente nem tudo nos desliga por completo do resto do mundo. Às vezes um texto sem rosto quase ganha um, às vezes se nos deixarmos tocar pelo que vemos na TV de repente apercebemo-nos de que temos sorte, mas que pode não durar, e por isso há que dar importância ao que realmente importa na vida. Curta já ela é , e cada vez mais, nestes tempos em que o tempo come os próprios filhos com escola, com trabalho, com horários, rotinas, deveres, tarefas , obrigações, compromissos . Quando afinal o maior compromisso de todos , que é viver, às vezes acaba num pestanejar . Essa é que é a ligação que devemos ter com a humanidade, é cumprir a nossa parte de sermos humanos e não nos alhearmos do que pode acontecer, e do que estamos ou não prontos a admitir que possa acontecer nas nossas vidas. É bom que possamos, alguns de nós pelo menos, virar do avesso o paradoxo da tecnologia e deixar que seja uma via de aproximação, e não de alheamento, em relação ao mundo. Porque o mundo não é "lá fora". É aqui mesmo .

segunda-feira, junho 20, 2005

A conquista da ... de quê ?

Recebi de uma amiga o seguinte mail, do qual fiz "copy-paste" sem mais acrescentos. Nunca li Montaigne mas ...



O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista. Vale a pena ler !

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

quinta-feira, junho 16, 2005

Um (des)encontro engraçado

Ia eu de violino às costas Chiado abaixo quando uma figura que subia no sentido oposto me chamou a atenção. Não vi logo quem era, mas reconheci o jeito de andar da mesma maneira que às vezes se reconhece uma música, um cheiro, qualquer coisa que associamos imediatamente a um passado bem ... "passado" . Nunca se lembraram de repente, por exemplo, da vossa sala de aulas da primária? Mas dizia eu que reconheci o jeito de andar. Um pouco mais perto pude confirmar o que me dizia o instinto. Notei o mesmo estilo, mas os cabelos bem mais compridos do que me lembrava . A mesma cara. Não nos cumprimentámos , porque não fiz questão de me desviar do meu caminho, e por ser daquelas pessoas que fizeram parte da minha vida sem que eu tivesse feito realmente parte da sua, de modo que olhou, mas não me "viu", sobretudo depois de doze anos ... Fui ter com G. , tomámos um refresco e fizemos planos para o ano que vem, entre um sumo de maçã e um bolo de bolacha . Algum tempo depois acabávamos a conversa a caminho da entrada do metro e voltei a ver passar a mesma pessoa. A probabilidade de isto acontecer é tão escassa, que não contive um sorriso e disse ao meu amigo « Olha para a tua direita . Vai ali o meu primeiro amor . »
Quando pensamos que nunca mais pomos a vista em cima de certas pessoas, a verdade é que algum dia voltaremos a vê-las - no Chiado, talvez até duas vezes no mesmo dia.

quarta-feira, junho 15, 2005

E depois de um momento de spleen ...

Não sei porque me lembrei disto agora, mas é uma daquelas memórias que se escondem lá bem no fundo, e não a queria perder outra vez durante tanto tempo. Na verdade este episódio está tão diluído na minha cabeça que já não sei se aconteceu o se o terei sonhado há muitos anos, num desses sonhos que intrigam e de vez em quando vêm à ideia sem razão aparente .
Bem mais pequenina , ia eu na rua de passeio pela mão do meu avô . Mas em que rua ? Perto de casa dos avós, certamente . Já não me lembro. Entrámos num café que não era o do costume . Não era muito grande, as paredes eram brancas , as mesas pequenas e quadradas . Não havia cadeiras, só uns bancos com coxins de napa amarela . Pouco iluminado . «Que bolo queres amiga ? Vai guardar aquela mesa, que já lá vou ter ». E eu fui . O caminho de dez ou quinze passos pequeninos até à mesa foi interceptado por uma figura sentada num desses bancos forrados a amarelão , que me puxou pelo braço.
Era um homem enorme aos meus olhos, gordo, não muito velho,mas com a pele mal tratada do álcool, ou da vida, ou de alguma doença do coração . Um frade, pois trazia vestido um hábito castanho, talvez de franciscano, e tinha pouco cabelo, mas não porque tivesse tonsura, era mesmo careca . O homem agarrou-me pelo braço e desatou a falar uma língua que eu não conhecia, olhos nos meus olhos, como se esperasse uma resposta. Abanou-me com uma interjeição de expectativa, e depois esforçou-se por resgatar a minha perplexidade com alguma coisa que eu compreendesse. Com as suas mãos gigantes, subiu as mangas da minha blusa sem autorização, pegou nos meus braços, voltou-os para cima, e correndo um dedo ao longo de cada um disse numa mistura desajeitada de espanhol e italiano : «Questo es miele, e questo es zucchero . Miele (um braço) .. e zucchero (outro braço)... non olvidare niña » . Não sei quanto tempo ficámos neste impasse do mel e do açucar e de não esquecer nunca. O meu avô regressou entretanto do balcão com um café e um bolo de arroz e fui sentar-me com ele a lanchar. Ou talvez tenha acordado ...

sábado, junho 11, 2005

Holzwege

Às vezes sinto-me como se chegasse tarde a todas as coisas da minha vida . Lido com elas como quem insiste em fazer malabarismo sabendo que tem as mãos untadas de manteiga . Ninguém se cansa de tentar, cansamo-nos é de não conseguir. Aqui fico a pensar em tudo, e em como no fundo não sei se poderia ter feito melhor, ter sido melhor nas minhas escolhas . Ter sido uma pessoa melhor, pronto . Porque não sei ser de outra maneira e faço um esforço enorme todos os dias a desbravar caminho que vai dar a nenhures. E para quê ? Não há potes de ouro no final. Nem um pote de água, quanto mais de ouro . Não é justo termos só uma oportunidade. Não é justo que nalgumas coisas nem sequer se tenha uma oportunidade. Falta aqui uma peça .

sexta-feira, junho 10, 2005

Da música

Para "Gabs" e outros músicos.
Este texto está arquivado no Dept. Filosofia da Fac. Letras desde 2002
Das várias definições que filósofos, músicos, estudiosos ou curiosos deram da musica, o único aspecto de base em que provavelmente todas estarão de acordo é o facto de que na música, com mais acuidade e maior subtileza do que em qualquer outra forma de expressão da natureza (humana ou não), se jogam os diálogos constantes e complexos dos sons e dos silêncios. Então “música” é algo que se constitui a partir de som e de silêncio. Mas estaremos, como à primeira vista parece, perante uma oposição? Será que, antes de toda a especificação do fenómeno musical, podemos dizer que {Música = som vs silêncio}?
Assim como as cores e as linhas ora preenchem espaços, ora delimitam fronteiras, também cada som marca o seu território entre os restantes, no espaço melódico e mesmo harmónico. Mas já Kandinsky falava não só em cor, mas também em ausência ou excesso de cor, traduzidas respectivamente no preto e no branco. Preto e branco, que traduzem também a sombra e a luz. No jogo entre luz e sombra, destacam-se as fronteiras das formas e das cores dos objectos. Ora de forma alguma poderíamos dizer que , na relação de confronto entre luz e sombra, a sombra seja a luz da luz. Mas podemos de alguma forma afirmar que, ao ofuscar a sombra, luz é sombra da própria sombra. De algum modo, neste sentido muito especial e não comutativo, luz é sombra. E o som?
Seguindo esta linha de comparação entre luz/sombra e som/silêncio, diremos então que entre som e silêncio se destacam e delimitam as formas e os timbres musicais. E do mesmo modo, se o silêncio não pode ser o som do som, já o contrário é bastante defensável. Som é silêncio, porque significa o silêncio do silêncio. Assim, mais do que a arte dos sons, a música é por excelência a arte dos silêncios . Sob muitas e variadas perspectivas, explorar o/um som, interrogar um som, extrair um som, procurar um som, tirar partido de um som, é também, e talvez seja sobretudo, explorar um/o silêncio, interrogar um silêncio, extrair um silêncio, procurar um silêncio e tirar partido de um silêncio. O gesto interpretativo (e bem assim a gesta interpretativa) não é portanto, na sua essência, o de produzir “aquele” som, mas é, ainda antes de falarmos nesses termos, e como teia genesíaca, integradora e articulante da totalidade de “sons” produzidos, o gesto de dominar o silêncio, organizá-lo, apropriar-se dele por detrás das suas máscaras incontáveis e jogá-lo, ou mais musicalmente, et le jouer...

A língua de Camões

Hoje é um bom dia para nos lembrarmos de como se fala bem em Portugal, e de como somos vistos lá fora .
A verdade é que derivado às sucessivas reformas educativas, a gente cada vez falamos pior, porque enfim, o português é uma língua difícil . Essencialmente, o problema está em que não há um projecto educativo a longo prazo, e depois evidentemente não se registão evoluções em que nos póssamos equiparar ao que de melhor se faz nas escolas europeias. E só algumas excepções vão levantando esse véu de verdade que esconde um português inteligente atrás de uma imagem pobrezinha e (nem sempre) lavadinha do tuguinha saloio e burrinho, mas honrado, do estado Novo.
Sim, sim, essa imagem é a que temos lá fora, é só verem nos filmes como os portugueses são estereotipados . Uns bonecos ridículos, que ou é os malandros da história, ou é uns idiotas chapados com montes de filhos à volta. Ora, em primeiro lugar, a gente não é burros, se bem que às vezes estêjamos distraídos . E depois, nem todo o tuga que trabalha lá fora é dono de um restaurante ou é empregada de limpezas . Aqui como em Espanha, os trabalhadores não somos bonecos, olha que m**** !!! Ele há gente a tirar doutoramentos e a fazer sucesso nas universidades europeias e estrangeiras ! Não sei que falta de orgulho é essa que nos leva a promover novelas em que o tuga é o criadito que ainda por cima nem sabe como há-de falar. Que o problema não é ele ser mordomo numa casa de ricos. O problema é que a personagem nem tem a dignidade de decidir se fala como eles lá, ou se fala como se havia de falar cá . Então fica assim um português todo escangalhado, que não é carne nem é peixe, de " tu não podes fázê isso comigo, estás a compreender ? Então eu amo-te tanto e tu tratas-me tão mau? Não achas que é dimais?" Soa desajustado de toda a forma. Ao menos o Brasileiro em Portugal não tem medo nenhum do seu sotaque. Pois eu acho que já chega, nem sabemos falar cá, nem sabemos falar lá .
O problema vem do mais humilde estrato social, onde apesar de tudo se aninham os regionalismos castiços que o tempo se encarrega de apagar nas cidades, até aos tipos que deviam de ser um exemplo a seguir, tipo de os ministros. E depois andem a desfilar assim à palhaço, a apertar as orelhinhas aos militares : viva o Camõooooes ! Viva Portugaleeeeee! Os portugueses paresse que les falta brio em mim-próprios, pá . Ou então aquelas pessoas da televisão que falam para milhões e só mandam calinadas de gramática. Deviam ser todos submetidos a reciclagem escolar, para que se a escola não chega, chegue ao menos a educação da parte dqueles em quem depositamos o ouvido. quanto aos políticos, que se se apressem, que já nem os ouvimos bem.
Não sabemos falar, ponto final, e se não dominamos a nossa própria língua, como havemos de saber as linguagens universais da ciência, da arte, etc. ? Como havemos de nos reconhecer uma identidade cultural válida ? É uma coisa que faz corar um santo. Não vale a pena exaltar os heróis da língua que cantaram grandes feitos se tudo o que cantamos é passado longínquo, nesse sentido em que é tão longíquo nem o sabemos já cantar, como aliás acontece com o Hino nacional .

10 de Junho

Aquela triste e leda madrugada
Cheia toda de mágoa e piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada,
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio

Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.

quinta-feira, junho 09, 2005

Insónia

Uma das coisas que mais me custa fazer é ficar horas a fio noite fora a ler matéria para um exame teórico. Antes fazia isso noites seguidas. É bom quando a matéria é interessante, mas chego a um ponto em começo a confundir as pilhas de folhas e livros que espalhei em cima da cama. Quando vejo as letras a dançar e leio coisas que não estão lá escritas, esse é geralmente o momento decisivo do serão: se eu passar além dele, consigo ver a matéria toda que queria. Se eu fecho os olhos, já só os abro ao toque do despertador. Tinha saudades de ler matéria de estudo, não para um teste, mas para um trabalho onde eu tenha realmente aprendido alguma coisa e tirado as minhas próprias conclusões, o que desta vez não foi o caso . Mas pelo menos tive a companhia da Maria, que esteve a dormitar umas vezes ao meu lado, por cima da família das flautas e dos intrumentos de cápsula, outras vezes abraçada aos meus pés descalços, certamente a sonhar com alguma posta de peixe suculenta. Ajudou-me a estudar, lá da maneira que os gatos têm de nos fazer companhia . Parece que percebem quando uma pessoa não pode estar sozinha (senão cede ao João Pestana, esse maroto) . Gosto dessa cumplicidade felina, mas não posso olhar para ela durante o estudo, porque não há nada que dê mais sono do que ver um gato a dormir . Fica este esta dica para quem sofre de insónias . . .

quarta-feira, junho 08, 2005

Roda da Sorte

Vi há pouco tempo nos placards do Metropolitano uma notícia inacreditável .... Então não é que o Governo pedia aos médicos do Algarve o favor de abdicarem das suas férias de verão ? Pois com certeza, Sr. Ministro ! E o Sr. fará o favor de abdicar das suas para endireitar o país ? E do carrinho topo de gama, novinho, que o Estado providencia a cada ministro ? E também do subsídio vitalício que passa a receber por ser membro da A. R. ? E que tal tirar um bocadinho do seu ordenado para contratar mais médicos, ou quem sabe, lançar a primeira pedra para novas faculdades de medicina ? Pois é ... É fácil andar por aí a falar à toa .
Outra : há pouco tempo ouvi no Telejornal da RTP2 o economista Miguel Beleza dizer que achava natural que a idade da reforma subisse até aos 65 anos, e que previa que em breve subisse até aos 70, coisa que ele via com bons olhos "porque senão (dizia ele a uma chocada e incrédula Alberta Marques Fernandes) daqui a uns anos, o Estado nem tem dinheiro para pagar a minha reforma, quanto mais a sua " !!!!! Então quer dizer que é justo um velhote de 70 anos andar a trabalhar sem poder, e assim mesmo a tirar o trabalho aos novos, para sustentar filhos e netos e ainda alimentar os luxos desta escumalha, que há-de ter reformas de sei lá quantos Bancos, sei lá quantas funções desempenhadas no Estado, sei lá quantos rendimentos externos ?!?
Outra: o nosso amigo Alberto João devia escrever um livro para todos aprendermos com ele a viver melhor e sair impune de toda a fraude política, moral e social . Alguém me explique como se consegue estar 20 ou 30 anos à frente de um governo regional nestas condições ... Não, não, já nem vou falar da velha táctica de pôr os mortos a votar. Refiro-me à capacidade de entorpecer as línguas dos outros políticos, não só os do seu partido, como os outros . Então um homem que recebe neste momento duas reformas, uma como ex-militar, outra como funcionário público, ainda está comer um terceiro ordenado como chefe do governo regional ????? Um partido que , enquanto esteve no governo , congelou os aumentos salariais da função pública e quis cortar nos "privilégios" que compensam o baixo salário de quem trabalha ... um partido destes não tem nada a dizer sobre isto ? Então onde estão os animais políticos deste país ? Que reformas querem fazer se ninguém tem coragem de dar um pontapé « digamos , no cu (que isto é mesmo assim ) » a estes ordinários ?!?

Como toda a gente, sinto-me desiludida com quem dirige esta caravela . Agora acho que devia mesmo ter dado o meu voto aos comunistas, como fiz sempre, mesmo que não concorde com eles em tudo . No entanto não deixo de pensar que, faça o que fizer, este país não me dá exemplos de estratégia, de democracia, ou lá o que seja. Não temos a segurança de saber em quem depositamos a confiança quando lá pomos a cruz . Sinto que cada eleitor é como se fosse um viciado a jogar no casino e a pôr fé no que não se pode prever.... "pode ser que tenha sorte, pode ser que não volte a perder" .

sábado, junho 04, 2005

Das coisas raras I

Hoje, encontrar um bom bacalhau não é tarefa fácil.

Manel Ferreira, Director de Compras do Pingo Doce

Os blogs do pessoal

Atenção amigos leitores ... Dêem uma olhada à coluna dos links, há lá blogs porreiros para visitar.
e um que ainda não linkei, mas que quanto a mim é um "must"
Sugestões aceitam-se, a blogosfera é um mundo interessante . E agora para o pessoal do carrapito : é favor não maldizer as minhas amêndoas !!!!
P.S. - Preparem-se, porque está a germinar por aí o blog do século ... 6mentes brilhantes6 vão trazer a lógica, a ética, a ontologia, toda a actualidade absolutamente emporcalhada, e o humor mais geek do milénio . . .
Brevemente no seu ecrã de computador

sexta-feira, junho 03, 2005

A todas as pessoas especiais

Há pessoas que conhecemos há muito tempo, tanto tempo que já não imaginamos a vida sem elas .

Há pessoas que conhecemos há pouco tempo, mas que nos fazem sentir como se nunca tivéssemos sido outra coisa que não amigos .

Há pessoas que passam umas poucas horas por ano connosco e que apetece dar-lhes um abraço e dizer-lhes ao ouvido : "Eu também nunca me vou esquecer" .

Há pessoas que fazem tudo por nós e nem sempre sabemos fazer o melhor por elas .

Há pessoas que nos fazem rir à gargalhada quando andamos com aquele nó na garganta que só apetecia fugir .

Há pessoas que nos adoram e mostram isso de uma maneira absolutamente ridícula, que de resto é a única maneira que têm de o fazer.

Há pessoas que nos adoram, mesmo que não o saibam mostrar .

Há pessoas que não nos adoram como gostaríamos, mas que nos adoram à mesma, de uma outra maneira que nunca conseguimos perceber .


Há pessoas que perdem uma tarde de trabalho para nos ouvir um desabafo no café .

Há pessoas que sabemos que estarão lá sempre, e que sabem que nós também estamos lá, para tudo .

Há pessoas que pensam em nós de longe a longe e que não sabem se também pensamos nelas.

Há pessoas que mudam a nossa vida e não sabem que o fizeram.

Há pessoas que vêm dizer "Obrigada por teres mudado a minha vida" sem que saibamos como foi que o fizemos.

Há pessoas que nos põem a mão no ombro quando precisamos, sem termos dito nada .

Há pessoas que "quase que ... " mas que ficam no coração de outra maneira .


Há pessoas com quem podemos poupar as palavras, porque nem precisamos delas .

Há pessoas que adoramos e que mereciam que lhes disséssemos isso todos os dias .

quarta-feira, junho 01, 2005

Threesome


As pedras da calçada dizem calor
de um sol que apetece pés descalços
A meio-sorriso e passo certo
vou sonhando vultos falsos
todos feitos de saudade

Tão de ti desertos
o meu corpo e a cidade ...
Fica apenas uma sombra
Um não-sei-quê de regresso,
de promessa, de desejo
de ter tudo o que não fomos .
E Lisboa que amei sempre
como se fosse toda minha .





Dos perguntadeiros

Eu tive sempre um espírito perguntadeiro, não me lembro de não pensar como estudante, e não imagino que alguma vez possa deixar de querer saber mais . Acho que aquele instante em que aprendemos alguma coisa, ou melhor, em que percebemos alguma coisa e de repente tudo se torna claro como água, é um instante maravilhoso.
Um passe de mágica ...
Adoro a sensação iluminada de finalmente compreender. Parece que já lá estava tudo antes, e que afinal era mesmo muito simples . E a cara de alguém que finalmente compreende? Agora também estou do outro lado, do lado dos que explicam, dos que ensinam, e é uma sensação fantástica ver mudar uma expressão de dúvida para uma expressão de espanto e de descoberta . E pensar que nesse dia fiz uma pessoa pequenina ir mais feliz para casa porque finalmente foi capaz de ir mais longe ...
Imagino que ser professor, para quem tem a paixão de estudar e de ensinar, seja uma daquelas coisas que fazem sentido.
Que fazem m e s m o todo o sentido do mundo . . .
Pena que nem sempre os governos se apercebam disso .