terça-feira, agosto 23, 2005

Da liberdade

Poderia dizer apenas que este verão a liberdade me sabe a groselha e a chá de carácter muito exclusivo, e isso quase que bastava. Acho cada vez mais que ser livre corresponde a apropriarmo-nos dos nossos direitos, como por exemplo o direito simples de sermos amados por inteiro e apenas por sermos quem somos e por estarmos ali. O amor tem muitas caras, muitas. Ser-se amado, ser-se livre, é ter a felicidade de encontrar no caminho pessoas que nos façam sentir especiais . Acho que também somos livres no instante em que reconhecemos com uma discreta gratidão essas outras caras que Amor tem e decidimos que queremos realmente fazer parte desse momento e não de outro qualquer. Por tudo. Ou só porque sim .

quinta-feira, agosto 18, 2005

Manifesto anti U2

Sim, eu sei que eles até têm umas canções engraçadas, mas será razão para tanto alvoroço ? Será que ao menos esse alvoroço e essa pseudo-catarse se traduz em energia positiva reutilizável nas coisas que realmente importam ? Não, não gostaria de ter estado lá . Não, não dormia ao relento por um bilhete. Não, não pagaria os 50 euros pelo bilhete, mesmo sem dormir ao relento. Será que alguém dorme ao relento para ter um emprego , numa altura em que todos se queixam de que falta o que os que há não compensam ? Pois não...se calhar até houve quem metesse um dia de férias para conseguir o bilhete. Era só um exemplo ... E como bem observou M. Sousa Tavares, como é que o P. R. não interrompe umas férias para dar assistência a famílias que perdem casas e a vida inteira nos incêndios, mas já vem a Lisboa para apertar a mão a 4músicos e dar-lhes a Ordem da Liberdade. A ordem da quê ?!?!? Alguém cravou um dia de férias ao papá para poder ter um autógrafo . Sim, eu sei que é uma gente que dá o seu trabalho a causas nobres, mas mesmo assim . . . Como sempre falta-nos enquanto povo um sentido de justeza das coisas, do que é apropriado e do que é urgente . E assim passa mais um episódio em que o país mergulhou numa febre irracional dessas que só uma depressão geral pode gerar. O nosso reino por duas horas de rock. Então e o resto ? "Nem me vou lembrar das noites que passei com frio e com fome para comprar bilhete, isso já foi há muito tempo" , dizia um na rádio. Pois é, .... nem me vou lembrar de que fiz um sacrifício desses por uma coisa que acaba duas horas depois e não dá frutos para além disso. O mal é esse, é termos a memória curtinha, torna-nos incapazes de edificar alguma coisa de sólido nas nossas vidas. O que ele não sabe é que provavelmente também se vai esquecer rapidamente da alegria breve dessa apresentação da banda irlandesa. Porque acaba, porque a seguir se mergulha novamente no lodo, porque não nos voltamos para o futuro, mas apenas chafurdamos inertes no que o presente nos dá, que é já pouco . Uma banda rock ??? É pouco . O Euro 2004 ? Foi pouco, e deixámos morrer a boa atitude . Não podemos continuar a fingir que somos felizes com duas horas de euforia .

sábado, agosto 13, 2005

Harry Potter e a República das Bananas

Vi o seguinte artigo, que em boa verdade e de boa fé, tenho de partilhar com os meus leitores. sim, até porque sou fã das aventuras nada infantis do Harry Potter e achei a comparação simplesmente brilhante, apesar de algumas imprecisões de interpretação dos conteúdos ficcionais, que os fãs como eu saberão identificar ao lerem o artigo por inteiro no J. N. #689 de 07 de Agosto/2005. Ora leiam ...

« Lord Voldermort e os seus Death Eaters andam à solta em Portugal, o país com mais Muggles por metro quadrado. (...) Pense bem, Voldermort é o mais poderoso dos mágicos maus . Assassinou os pais de Harry, mas os seus poderes não não chegaram para matar o bebé [leia-se, Harry] como foram esvaziados pela tentativa falhada, libertando o mundo do seu terror e obrigando-o a fugir. Agora, Harry já adolescente, prepara-se para o duelo final, consciente de que só um deles poderá sobreviver . Enquanto isto, os Death Eaters regressam da clandestinidade a que foram votados peça queda do seu senhor, com a missão de reconduzir Voldermort ao poder. Invadem o coração dos feiticeiros bons de tristeza, espalham a confusão e matam sem escrúpulos. Assistindo a tudo isto, sem perceber nada do que se passa estão os Muggles, aqueles que não têm uma pinga de magia dentro de si e, mais grave ainda, nem sequer suspeitam do mundo mágico que corre paralelo ao seu. Soa-lhe familiar ?
Pois para mim tudo se tornou subitamente claro no dia em que olhei para os jornais e verifiquei que uns horripilantes jornalistas, que não podem ser outra coisa senão Death Eaters, tinham revelado o fim do último livro de Harry Potter, contando com todo o descaramento quem morre e quem mata. Serviram Voldermort, roubaram a emoção e o impacte a quem legitimamente ansiava por ele há meses e se preparava para o gozar, em cada linha de cada uma das seiscentas páginas . Mereciam uma pena em Azkaban, a mais sinistra das prisões, entregues aos Dementors, os mais perversos dos carcereiros. E juro que estou a falar a sério ! Só é capaz de um acto vil desta natureza quem ainda não percebeu a força dos livros, quem tem MEDO de se perder no que é supostamente "infantil" , quem teve uma infância tão triste e árida, povoada de adultos tão inseguros de si mesmos que temiam descambar de vez se alguém lhes falasse de uma realidade para lá dos seus olhos .
E juro que estou a falar a sério quando digo que as nossas depressões nacionais se devem a esta incapacidade de levantar os pés da terra, a este terror intrínseco de não sermos levados a sério, a este bloqueio mental que nos prende às aparências, num charco onde uma ideia nova causa demasiados remoínhos . Se os nossos ministros preferissem vassouras a limusinas, se com uma varinha fossem capazes de pendurar por um pé os adversários de cabeça para baixo, se não se importassem de falar com as personalidades dos quadros que lhes decoram os gabinetes ne de mergulhar nas memórias - nas suas e nas dos outros - antes de tomar uma decisão, e se cada um de nós não se assustase com a mudança e o virar do mundo ao contrário, tenho a certeza de que Portugal seria diferente.

Porque desculpem, mas apesar a falta de livros realmente bons, e a overdose de livrinhos desprovidos de conteúdo e de interesse, que querem impingir aos miúdos uma versão melosa e idiota da realidade, pode explicar a percentagem de Muggles em território nacional. Só num país povoado de gente derrotada e sem imaginação, a quem foi sugada toda a energia e capacidade de sonhar, pode surgir uma candidatura como a de Soares . Não tenho nada contra o senhor, antes pelo contrário, mas como é que é possível este "ó tempo volta para trás" , esta nostalgia doentia que transforma o passado num eldorado que nunca foi, tal o pânico que inspira o futuro ? Que Mário Soares , aos 81 anos, e depois de dez anos na Presidência, tenha vontade de para lá voltar é já de si mau sinal. Sinal de que também ele ficou preso no tempo, incapaz de encontrar satisfação em vestir o seu barretinho encarnado e ser um "homem grande da aldeia", interessado em superar o seu narcisismo para ajudar a encontrar alternativas a si próprio, em lugar de regressar numa manhã de nevoeiro, convencido de que mais ninguém está à altura de salvar a pátria. Mas que líderes políticos e outros tenham corrido a abraçar a ideia é, no mínimo, obra de Death Eaters, ansiosos por sacrificarem os outros às suas estratégias (é a solução aparentemente mais simples!), incapazes de ir mais longe, de recriar os acontecimentos. Acreditem, nem crise nem o défice, nem os jobs for the boys deram um sinal tão claro de que Voldermort está de volta. O pior é que nem sombra de Dumbledore ou de Harry Potter ! »

sexta-feira, agosto 12, 2005

Do verão

Caros amigos, como bem se entende, tenho estado de férias. Ainda não acabaram, mas têm sido muito proveitosas em matéria de reflexão e de tomada de decisões. Sim, sim, há coisas que já esperaram tempo demais . Aguardem novos posts sobre vários assuntos, Estou (quase) de volta :))))

Yours faithfully

Ginja