Pedro & Inês ...em foleiro português

Quem já tentou ver, sabe do que estou a falar.

Naturalmente, os usos da linguagem mudam com os tempos . Ocorrem palavras novas, expressões novas, a pronúncia pode também alterar-se um pouco. Mas não a gramática essencial .

Pois nesta série da RTP, que tanto prometia aos espectadores a oportunidade de disfrutar de uma reconstituição histórica, falhou tudo a partir do momento em que as personagens "vestem" uma época e falam noutra diferente. Assim temos uma matrona medieval a dizer ao filho ainda mais medieval, e para mais herdeiro do trono, qualquer coisa como : "Em que estais a pensar? Na futura rainha? Não se preocupe, verá que vai gostar dela" . Percebem a mudança de registo ? Do "vós" para o nouveau-riche "você" ... Da segunda pessoa do plural, para uma terceira pessoa que enfim, usamos há talvez uns cem ou duzentos e tal anos. De certeza que na nobreza do século XIV ninguém falava à tio de Cascais !!! Falamos nós, enfim, uns com sotaque da linha outros sem.

Eu sei porque é isto acontece, a explicação de base é só uma e tem a ver com incertezas na conjugação de certos verbos na segunda pessoa do plural, especialmente no que diz respeito a conjuntivos e imperativos. Digo-o porque vejo que as pessoas em geral têm dificuldades nestes dois em especial: dizem "Não vos preocupai" em vez de "Não vos preocupeis", por exemplo. Mas para um filme que pretende ser uma reconstituição histórica, não deveria haver uma preocupação científica com estes aspectos da linguagem ? E andam para aí professores de português sem trabalho, quando as televisões precisam tanto deles !!!

Vergonha para os argumentistas e guionistas porque são responsáveis pela substituição foleira da segunda pessoa do plural pela snob terceira pessoa . Vergonha para os actores porque, apesar da formação académica (ou não ...) , não têm o brio de eles próprios tomarem em mãos a correcção das suas falas . E vergonha para a RTP que passa esta produção nacional fazendo com que actores , equipa de produção e realização, e a própria televisão do Estado se exponham ao ridículo por esta falta de cuidado . Ou falta de estudo .