sexta-feira, maio 06, 2005

Lisboa ao sol

Sim, preocupo-me com a seca e os problemas da agricultura, apesar de fazer tudo na cidade. Penso mesmo muito na chuva, se ela virá abençoar o meu aniversário, como em todos os anos de calor intenso . E no entanto gosto de sentir a luz de Lisboa na minha cara, essa luz soalheira que acorda a pele e o coração . Gosto do cheiro da cidade, cheiro a castanhas no frio limpo e estaladiço de inverno, e cheiro a verão e a santos populares em noites quentes .
Um professor (daqueles que amávamos, dos que ficarão sempre na memória) chamou-nos uma vez insensíveis, que tínhamos corações empedernidos . Há quem se lembre disto como se fosse ontem. Pois eu lembrei-me disso quando pisava a calçada do Chiado, esse outro coração onde toda a gente de repente é Lisboeta . Ao sol . E pensei em como gostaria, quando morresse, que alguém me tomasse o coração e o devolvesse ao pedacinho de terra a que ele mais pertence - escondendo-o aí mesmo, debaixo dessas pedras, onde ele pudesse secretamente descansar ao ritmo dos corpos que passam. O meu coração empedernido .