domingo, maio 01, 2005

Da esperança

O problema das palavras e de as gastar sem lhes chegar ao âmago do sentido, é que de tanto as repetir, elas perdem o pouco sentido que têm . Assim , uma qualquer palavra conhecida, se a dissermos muitas vezes a meia-voz, acaba por se desagregar rapidamente na boca e tornar-se estranha ao ouvido. Mas esse é o ponto em que ela está pela primeira vez livre para ser de novo pensada. A partir daí será sempre uma palavra nova (outra vez) .
Ainda ontem discutia com uma amiga a questão da "esperança" . Vem do verbo "esperar", e alguém fez a palavra à medida do que ela diz :
esper a n ç a ,
soa a um esperar que se arrasta no tempo, que não acaba nunca . . . A esperança não é uma capacidade, é um instinto obscuro e irracional (sim, irracional, desenganem-se) que não se controla . É por isso que, dizem, é a última a morrer. Mas eu diria antes: é aquela que teima em não morrer, mesmo que às vezes fosse melhor que morresse, para se continuar com o resto que a vida nos dá e que não aceitamos porque ainda temos esperança . Isto é, porque temos nada , mas esse nada é precisamente o espaço incomensurável que está guardado para uma coisa só e não pode ser preenchido por outra qualquer.

1 Comments:

Blogger Ginja said...

Os patetas do carapau !!! Lindo!!! Fico sempre a rir-me sozinh@ deste teu comentário !!!

maio 06, 2005 8:18 da tarde  

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